A FAPERJ e o Departamento Cultural da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro apresentam a Exposição

Escarradeira

Luciane Sgarbi S. Grazziotin

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Programa de Pós- Graduação em Educação

Escarradeira, também conhecida como escarrador, é um vocábulo que deriva da palavra escarrar, do latin “screare”, expelir escarro, expectorar, sec. XVI (CUNHA, 2010). Consta que a palavra foi mencionada inicialmente em 1536 e, como objeto, utilizado pela primeira vez em 1546, por um médico ligado a corte do rei Francisco I, que teria oferecido aos cavalheiros uma pequena caixa para cuspir (GAY, 1887).

No Brasil, o uso do nome escarradeira data de 1881 e o objeto aparece na literatura e em imagens com diferentes formas e tamanhos. Porém, de forma geral, pode- se dizer que se caracterizava como uma espécie de bacia tendo no centro uma peça removível com um furo, para que o cuspe e/ou escarro deslizasse para dentro e ficasse oculto (CUNHA, 2010). Costumeiramente de porcelana, de modo geral bem decorado, compunha o mobiliário das residências de pessoas, no século XIX, que podiam se dar aoluxo de adquirir bens supérfluos. Nas décadas de 40 do século XX, as escarradeiras mais populares eram esmaltadas na cor branca, seu lugar por excelência era a sala de estar e se propunha a oferecer conforto à qualquer visita que necessitasse cuspir um pigarro ou simplesmente cuspir, como hábito adquirido e, assim, pudesse encontrar alívio sem transgredir a boa etiqueta da época ¹. Nas repartições públicas as escarradeiras, também eram utilizadas por usuários de tabaco de mascar, tinham tamanho grande e ficavam nas salas de espera ², nos hospitais, era usual se colocar um líquido desinfetante no recipiente (SANTOS, 2004).

O uso da escarradeira se popularizou com as epidemias de tuberculose no último quartel do século XIX e primeira metade do século XX,³ quando cuspir no chão era uma prática comum. Por esse motivo, a escarradeira foi tomada como medida profilática contra a doença, era, assim, utilizada por pessoas acometidas pela tuberculose que precisavam eliminar o catarro, se constituíam em objetos obrigatórios nos locais públicos (ANTUNES, 2000).

Existem histórias interessantes do emprego de tal objeto, cujo uso não era tão conhecido, sobretudo, no meio rural. Em entrevista concedida para fins de pesquisa, contou-se que: um prefeito de uma pequena cidade do interior gaúcho, por volta do ano de 1940, teria ido ao Palácio Piratini, sede do governo estadual, em Porto Alegre e, durante sua espera para falar com o governador, cuspia frequentemente no chão. Um funcionário que estava na sala começou a empurrar a escarradeira para ficar próxima ao visitante. Ele, que não conhecia esse objeto, teria dito “parem de empurrar isso para perto de mim, pois daqui a pouco eu cuspo dentro”, (SANTOS, 2004). Se é, ou não, verdade, difícil saber, mas provavelmente fatos assim tenham acontecido em diferentes lugares.

Notas de rodapé

¹ https://www.dicionarioinformal.com.br/escarradeira/ - acesso em 01/10/2021 ² https://www.cgd.pt/Institucional/Patrimonio-Historico-CGD/Estudos/Pages/Escarrador-e-Saude-Publica.aspx - acesso 21/02/2022. ³ https://pt.wikipedia.org/wiki/Escarradeira#cite_note-3/ - acesso em 03/10/2021.

³ https://pt.wikipedia.org/wiki/Escarradeira#cite_note-3/ - acesso em 03/10/2021.

Referências bibliográficas

ANTUNES, José Leopoldo Ferreira; WALDMAN, Eliseu Alves e MORAES, Mirtes de. A tuberculose através do século: ícones canônicos e signos do combate à enfermidade. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2000, vol.5, n.2, p.372-376.

CUNHA, Antônio Geraldo. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Lexicon, 2010.

GAY, Victor. Glossaire archéologique du moyen âge et de la renaissancen Société Bibliographique, 1887.

SANTOS, Lucila Sgarbi ; Arquivo Municipal de Bom Jesus. Acervo de Memória Oral (1990-2004).