A ampulheta ou o relógio de areia consiste em um artefato composto de dois vasos cônicos verticais, tradicionalmente confeccionados em vidro, que se associam pelo vértice através do qual certa quantidade de areia fina escoa de um compartimento para o outro. Esse movimento caracteriza-se por medir uma fração de tempo. A ampulheta, objeto desta exposição, afere o total de 5 minutos. Alguns fatores podem afetar o intervalo de tempo medido, tais como a quantidade e a espessura da areia utilizada, o tamanho do vaso e a largura do vértice. A qualidade da areia deve ser, então, observada: necessário que seja fina, seca e consistente, pois uma areia grossa e úmida pode afetar o fluxo da saída dos grãos. No entanto, em tempos passados, utilizou-se o pó de casca de ovo e de vidro. Deve-se considerar também uma superfície plana para colocar o objeto, visando-se ao seu adequado funcionamento. As ampulhetas podem ser reutilizadas sempre que se deseje, invertendo-se os vasos, quando o superior esvaziar. Trata-se de um dispositivo em vários formatos e tamanhos, que marca a passagem do tempo.
Precursora da ampulheta, a clepsidra ou relógio de água pode ser considerada um dos mais antigos instrumentos de medição do tempo, utilizada na Grécia e na Roma antigas, no Egito, na China, na Índia, em sociedades ameríndias: um relógio por meio do qual o tempo é medido pelo fluxo regulado de líquido que entra e sai de um recipiente onde a quantidade de líquido é então medida. Funciona com o auxílio da força da gravidade, seguindo o mesmo princípio da ampulheta.
No que diz respeito à compreensão da passagem do tempo pelos homens nos diversos períodos da história, os estudos sobre mitologia são bastante úteis. Por um lado, informam sobre a relevância de sua medida em termos de duração e de frequência. Por outro, indicam aspectos simbólicos de sua apropriação. Na mitologia grega, por exemplo, Cronos é o nome atribuído à personificação do tempo. Cronos é considerado o mais novo dos seis poderosos titãs que se filiavam à primeira geração dos seres divinos. Filho mais novo de Urano e de Gaia, ele se associava à agricultura e detinha o poder de controlar o tempo, inclusive interrompendo seu fluxo. Portanto, segundo aquele imaginário, era uma divindade que decidia o curso da história para todos os seres humanos (GRIMAL, 1993).
No âmbito da historiografia, considera-se que a ampulheta foi identificada na Europa pela primeira vez no século VIII, tendo sido confeccionada pelo monge Luitprand, no interior da catedral de Chartres na França. Este dispositivo foi amplamente utilizado na Europa ocidental por volta de 1500 e, com frequência, tem sido associado às navegações marítimas (https://www.myhourglasscollection.com/hourglass-history).
Do ponto de vista figurado, a ampulheta é um dos mais reconhecidos símbolos relacionados ao tempo da morte, notadamente no momento em que os vasos são invertidos e um deles se esvazia. Por conseguinte, tem sido utilizada na arte para simbolizar a transitoriedade da vida. Alfredo Volpi (Lucca, Itália 1896 - São Paulo, São Paulo - 1988) emigrou com a família para o Brasil em 1897. Autodidata, desenvolveu habilidades artísticas como entalhador, pintor, pintor de murais. Entre algumas séries que revelam a qualidade de sua pintura, Marinha, Flores, Fachadas, Bandeirinhas, destaca-se a série Ampulhetas, onde, segundo os críticos, a ênfase na luz transfere-se à arte concreta, à geometrização. (http://bndigital.bn.gov.br/artigos/arte- alfredo-volpi
Sobre os usos da ampulheta no tempo presente, é muito comum sua utilização como objeto de decoração, sendo oferecida em lojas e destacada em anúncios para decorar ambientes, como salas, quartos e compor a harmonia no interior das casas junto aos quadros, vasos, em cristaleiras, cômodas e em mesas de cabeceira.
Note-se, ademais, interessante apropriação simbólica do termo ampulheta, ao se referir ao corpo feminino, denominado corpo ampulheta, isto é, quando a mulher apresenta cintura fina e bem diferenciada do tamanho dos ombros e quadris. Exemplo clássico desse tipo de compleição física foi atribuído ao corpo da atriz e cantora italiana Sophia Loren (1934 ) no auge da carreira nos anos de 1950.
GRIMAL, Pierre. Dicionário da mitologia grega e romana. Tradução; Victor Jabouille. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 7 a edição, 1993. https://www.myhourglasscollection.com/hourglass-history. Acesso em 20 de janeiro de 2022. http://bndigital.bn.gov.br/artigos/arte-alfredo-volpi. Acesso em 19 de janeiro de 2022