A FAPERJ e o Departamento Cultural da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro apresentam a Exposição

Roca de fiar

Aline Pinto Pereira

Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ

Programa de Pós-Graduação em Educação/ProPEd

O desenvolvimento tecnológico está diretamente condicionado ao processo produtivo e, portanto, relacionado à existência humana. A roca, também conhecida como roda de fiar, é instrumento importante da história do trabalho e do cotidiano dos ofícios artesanais no Brasil, desde os tempos coloniais.

Aparelho intrínseco à ampliação da fiação e da tecelagem no mundo, a roca ainda tem datação e origem incertas, embora existam indícios de que tenha surgido no Oriente Médio, por volta do ano 5000 antes de Cristo. Inicialmente, possuía fusos manuais mais rudimentares, a partir dos quais o linho ou a lã eram tecidos artesanalmente.

Em meados do século XIII, no contexto do Renascimento Cultural e Científico, o instrumento teria sido difundido pela Europa. O Catolicismo, inclusive, remonta à figura de Santa Isabel, mulher que por volta do ano 1230 usava a máquina de fiar para tecer para os pobres.

No período Moderno, a roca consistia em cavalete de madeira com pedal ou manivela, roda e engrenagem com porção de metal (cabeçal para o enrolamento da fibra) para a fiação. Por meio do hábil movimento de mãos e dos pés, respectivamente girando a roda e pisando no pedal, era possível transformar as fibras vegetais ou animais em fios.

Quanto à realidade brasileira, esteve associada à ocupação predominantemente feminina, pois, além dos serviços domésticos, tecelagem, costura, renda e bordado eram atividades costumeiras das mulheres. Entretanto, é importante destacar a participação de escravizados no processo de colheita das matérias-primas, a exemplo do algodão, que necessitava ser limpo por um cilindro de madeira (descaroçador), para ficar livre de impurezas, e ainda ser cardado (desenredado; penteado) para o uso.

Importante mencionar ainda a força simbólica que o instrumento teve na luta pela descolonização da Índia em meados do século XX. Na ocasião, Mahatma Gandhi (1869-1948) – liderança do conturbado processo de emancipação da antiga colônia britânica na Ásia - incentivou seus conterrâneos a desafiarem o poderio inglês ao confeccionarem suas próprias roupas e, assim, recusarem os tecidos estrangeiros e industrializados da Europa.

Referências bibliográficas

ARAÚJO, Emanoel. Arte, adorno, design e tecnologia no tempo da escravidão. São Paulo: Museu Afro-Brasil, 2013, 1ª edição.

BORGES, Kátia Franciele Corrêa. Fiar, Tecer e Rezar: a História das mulheres na fábrica de tecidos do Biribiri (1918-1959). Universidade Federal de Juiz de Fora, 2019.

GANDHI, Mohandas K. A Roca e o Calmo Pensar. São Paulo: Palas Atenas, 1991. IBRAM. Roca. Acervo Digital. Disponível em: https://museusibramgoias.acervos.museus.gov.br/museu-das-bandeiras/roca/ Acesso em março de 2022.