No Guia de Identificação de Arte Sacra, elaborado por Raphael Joao Hallack Fabrino (2012), publicado pelo o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o sinete é definido como “utensílio composto de pequeno cabo a que se acha adaptada uma peça, geralmente metálica, gravada em relevo. Utilizada para imprimir em lacre, papel ou cera. Por extensão, a própria marca que se acha gravada também denomina-se sinete”. (FABRINO, 2021).
Há indícios da existência de sinetes desde a antiguidade. Não se sabe exatamente onde e quando surgiram. Alguns estudos apontam que os mais antigos datam de 3.000 anos antes de Cristo, sendo encontrado na Mesopotâmia como figuras esculpidas em rolos de pedras. Também se apresenta em forma de anel para selar documentos. Gregos e romanos usavam o anel de sinete, de metal (ouro ou prata). “O anel de sinete é um objeto de metal como ouro ou prata usado como assinatura do proprietário e/ou responsável por uma Organização, para selar e autenticar documentos e cartas” (MERCALDI e MOURA, 2014, p.3).
O sinete também é encontrado em versículos da Bíblia sagrada “Então escreveu cartas em nome de Acabe, e as selou com o seu Sinete”. Disponível em https://novabiblia.com.br/sinete-na-biblia.
Na idade Média, o anel de sinete foi usado pela primeira vez na Igreja Católica Apostólica Romana “pelo Papa Clemente IV como selo de uma carta que enviou para seu sobrinho no ano 1265. O papa o utilizou para fechar toda correspondência privada ao pressionar o anel sobre o lacre de cera vermelha derretida em cada envelope.” Conhecido como 'Anel do Pescador', “é todo feito em ouro e apresenta uma imagem em baixo relevo de Pedro pescando em seu barco e o nome do papa que o está usando em alto relevo na parte superior escrito em latim”. (GASPARETTO JUNIOR, s.d).
No final da Idade Média, na Europa, o anel de sinete foi usado como um meio de identificação, como fator distintivo de uma classe social. Todos “que eram intitulados a usar armas usavam anéis de sinete com seus brasões”, enfatizando sua função simbólica. Dessa form, “o sinete ganhou nova vida”. (MERCALDI E MOURA, 2014, p.5).
Em 1305, o rei português D. Diniz, decretou que para um documento possuir validade oficial, deveria ser redigido por tabeliães autenticando com o carimbo/selo da cidade ou vila. “Os carimbos/selos do concelho, como lhe chamavam, deveriam conter palavras régias, sinais reais, o nome de D.Diniz e o nome da cidade ou vila” https://www.carimbosreal.com.br/historia-dos-carimbos
Um sinete pode ser entendido como sinônimo carimbo, mas não simplesmente. No dicionário online de português sinete é definido como um Selo gravado em relevo ou em baixo- relevo com as armas ou as iniciais de quem o usa: apor seu sinete. Marca ou sinal feito com sinete. [Figurado] Marca distintiva, originalidade. Como sinônimos de sinete: “carimbo, chancela, selo, timbre”. Carimbo é definido como “Instrumento confeccionado em madeira ou metal, composto por uma base de borracha que contém letras ou figuras em relevo para serem mergulhadas em tinta, usado para sinalizar documentos, identificar papéis, livros etc; selo, sinete”. “Sinal ou marca impresso ou feito por esse instrumento”. [Popular] “Marca de nome que, feita com esse instrumento, substitui uma assinatura, ou valida o conteúdo de alguma coisa”. Disponível em https://www.dicio.com.br/sinetes/
Os carimbos como conhecemos hoje – já em desuso, como os de madeira e base em borracha trazendo textos, letras e figuras em relevo, surgiram a partir da descoberta do processo de vulcanização criado em 1844 pelo estadunidense Charles Goodyear (1800-1860). Os carimbos de madeira tem sido substituídos pelos carimbos de plásticos e auto-entintados que possuem almofada embutida”. http://stampbrazil.com/blog/a-historia-do-carimbo/
No Brasil, o termo carimbo surgiu no século XIX fazendo referência ao símbolo ou marca pública colocada na moeda-papel e na moeda metálica que por aqui circulava. E remonta a vergonhosa história da escravidão. O ferro em brasa foi utilizado para marcar na pele do escravo um símbolo (seta, cruz, figura geométrica etc.), uma letra maiúscula ou, então, duas letras montadas, como sinal de propriedade ou castigo aos escravos rebeldes ou fugitivos. O costume existia desde os antigos egípcios e romanos. Alguns escravos eram marcados a ferro ainda na África, antes do embarque para o Brasil. De acordo com Clóvis Moura, autor do Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, a palavra “carimbo”, que é de origem africana, surgiu a partir desse hábito. Edusp, 2013. https://studhistoria.com.br/qq-isso/ferro-de-marcar- escravo/. O termo carimbo vem da palavra “ka’rimbu” do vocabulário quimbundo que é língua da família banta, falada em Angola pelos ambundos cujo significado é “marca”. https://www.carimbosreal.com.br/historia-dos-carimbos
A história do sinete também remete a história da carta pessoal ou institucional, como um tipo de correspondência. No século XIX, uma carta desde sua concepção até o seu envio ao destinatário, envolvia uma série de elementos materiais como envelopes, papéis, penas, canetas, lugares de escrever, de guardar (GAUSTED, 2009) e sinetes para lacrá-las. O sinete com que a condessa de Barral assinava suas cartas enviadas ao Imperador Pedro II , foi uma das peças da exposição intitulada “Condessa de Barral: cartas & imagens”, organizada no Centro Cultural Banco do Brasil, em 2015. Luisa Margarida Portugal e Barros, manteve vasta correspondência, com o Imperador Pedro II (VASCONCELOS, 2015). Ela foi a preceptora responsável pela educação das princesas Leopoldina e Isabel, filhas de Dom Pedro II. (AGUIAR E VASCONCELLOS, 2012)
Atualmente, o sinete possui uma variedade de utilidades como em convites sofisticados [de casamento, aniversário] e adquiridos junto a empresas especializadas...” (GASTAUD, 2009, p.59); empresas que buscam apresentar seus produtos em estilo único e personalizado. Os sinetes ainda são encontrados em leilões, museus, colecionadores, a venda na web. Nela há diversos vídeos ensinando a como fazer sinetes e lacres de cera.
AGUIAR, Jaqueline Vieira de; VASCONCELLOS, Maria Celi Chaves. “Meus caros paes”: a educação das Princesas Isabel e Leopoldina. Revista Educação em Questão, Natal, v.44, n.30, p.6-35, set./dez. 2012. Disponível em https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/4079.
FABRINO, Raphael Joao Hallack. Guia de Identificação de Arte Sacra. IPHAN, 2012. (Trabalho de pesquisa desenvolvido na Superintendência do IPHAN no Rio de Janeiro, como parte do Programa de Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural – IPHAN, Rio de Janeiro, 2012.
GASPARETTO JUNIOR, Antonio. Anel do pescador. Disponível em https://www.infoescola.com/religiao/anel-do-pescador/
GASTAUD, Carla Rodrigues. De correspondências e correspondências: cultura escrita e práticas epistolares no Brasil entre 1880 e 1950. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-graduação em Educação. Porto Alegre, 2009. Tese (Doutorado em Educação)
MERCALDI, Marlon. MOURA, Mônica. Função social dos anéis: uma breve história. In: Anais do 10º Colóquio de Moda. 7ª Edição Internacional. 1º Congresso Brasileiro de Iniciação Científica em Design e Moda, 2014. 2014. Disponível em: http://coloquiomoda.com.br/anais/Coloquio%20de%20Moda%20-%202014/COMUNICACAO-ORAL/CO-EIXO3-CULTURA/CO-EIXO-3-Funcao-dos-Aneis-Uma-breve-Historia.pdf. Acesso em: 03 mar. 2022.
VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. Exposição revela personagem da corte brasileira: condessa de Barral. In. Boletim Faperj. Rio de Janeiro, publicado em 04/12/2014. Disponível em https://www.faperj.br/?id=2801.2.0