A FAPERJ e o Departamento Cultural da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro apresentam a Exposição

Espevitadeira

Paulo Rezzutti

Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo

E o espevitador de velas? Como ele se lembrava desse utensílio obsoleto, de prata! Era com ternura que se recordava dele, nas mãos de sua mãe, quando, nos longos serões, na sala de jantar, à espera do chá – que chá – ele o via aparar os morrões das velas do candelabro, enquanto ela, sua mãe, não interrompia a história do príncipe tatu, que estava contando (BARRETO, 2021, p. 4).

Diferente dos dias atuais, quando o simples acionar de um interruptor, ou mesmo de um sensor de presença, ilumina ou apaga a luz de um ambiente, nos séculos passados, antes da chegada da eletricidade, conseguir iluminar um local era um pouco mais complexo.

A iluminação noturna num ambiente público ou privado, para diversão ou estudo, requeria sobretudo velas ou lamparinas a óleo ou querosene. Ambas possuíam pavios que eram acesos para daí se obter a claridade necessária. As lamparinas podiam ser simples, de metal, ou sofisticadas, em porcelana com mangas de cristal. Enquanto isso, as velas podiam ser colocadas em candelabros, lustres ou castiçais. Além do suporte para a chama, alguns outros objetos faziam parte do sistema de iluminação da época, como a espevitadeira.

A espevitadeira é uma tesoura para espevitar pavios, morrões e mechas de velas e das lamparinas, ou seja, cortar a parte queimada do pavio e, no caso da lamparina, puxá-lo um pouco. Isso resultava numa chama mais viva e forte, aumentando a iluminação do ambiente. Outra função da espevitadeira era cortar o pavio aceso para apagar a chama e deixar a vela pronta para ser acendida novamente. Assim, ela era acesa sem precisar usar os dedos, evitando que a fumaça e a cera se espalhassem.

Normalmente, numa das pontas da lâmina da espevitadeira, há um recipiente onde ficam armazenados os pavios queimados. Invariavelmente, acompanhava a espevitadeira uma pequena bandeja, onde ela era apoiada quando não estava em uso. Ambas as peças eram produzidas, habitualmente, em prata. Antes mesmo da substituição da iluminação a vela ou lamparina pelo gás e pela eletricidade, os pavios foram sendo mudados e passaram a causar menos fumaça e mais luz, aposentando as espevitadeiras.

Referências bibliográficas

BARRETO, Afonso Henriques Lima. A biblioteca. Niterói: Itapuca, 2021.

CONHEÇA a espevitadeira: usos esquecidos, objetos preservados. Produção e apresentação: Ana Luísa Camargo. Petrópolis: Museu Imperial, 2020. YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YxVkTOnwis0&t=7s>. Acesso em: 4 mar. 2022.

FERREZ, Helena Dodd (coord.). Tesauro de objetos do patrimônio cultural nos museus brasileiros. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 2016.