A FAPERJ e o Departamento Cultural da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro apresentam a Exposição

Binóculos

Ednardo Monteiro Gonzaga do Monti

Universidade Federal do Piauí

Programa de Pós-Graduação em Educação

Os binóculos são utensílios ópticos que foram bastante difundidos no âmbito da educação no decorrer do século XIX. Geralmente estes instrumentos são considerados por muitas pessoas como análogos aos telescópios. Isto pelo fato de ambos serem potentes ampliadores das imagens de objetos, planetas, plantas, aves, insetos ou pessoas distantes.

Em outras palavras, são instrumentos parecidos com os telescópios que são úteis para múltiplos usos de observações diversas. Suas utilidades mostram-se compatíveis com demandas para visualizações terrestres, marítimas e, em casos específicos, até mesmo, astronômicas.

Os binóculos possibilitam uma significativa visão tridimensional dos objetos, pelo fato de serem confeccionados por duas lunetas paralelas. Assim, ao se fazer usos desses aparelhos, são possíveis, mesmo que a distância, vislumbrar as profundidades das cenas, fato que viabiliza a possibilidade de percepções das larguras, alturas e profundidades.

Desde o século XIX, esses instrumentos utilizados para aproximação da visão de imagens variaram em relação ao seu potencial de ampliação do foco observado. A saber, no contexto oitocentista, alguns desses já faziam os objetos serem vistos de maneira ampliada numa proporção de 6 a 10 vezes maior do que seus tamanhos originais.

Utilizados por mulheres transeuntes para contemplação de novos horizontes de formação em viagens ou observações de investigadoras em seu campo de pesquisa, há variados modelos compactos, que pouco pesam e não ocupam muito espaço. Portanto, não incomodam no decorrer de longos deslocamentos ou períodos de utilização.

Não é possível pensar em um modelo de uso geral. A escolha do binóculo está diretamente relacionada com o objetivo da observadora, sua expectativa segue a compatibilidade com seu destino, seu uso. Com eles são possíveis observações dos delicados detalhes de árvores floridas, as riquezas das cores dos animais que voam, as características peculiares do andar de diferentes espécies. Nessa perspectiva, podem ser utilizados para diferentes fins de apreciação de pássaros nos céus, plantas em montanhas ou despenhadeiros, assim como, animais selvagens que exigem longas distâncias com margens de segurança.

Por um lado, este binóculo do século XIX, ressalta a minúcia e requinte que nos permitem interpretar a sofisticação com que as mulheres da elite acompanhavam as obras musicais nos nobres palcos artísticos, evidenciando o quanto o teatro era um importante cenário na vida social de outrora. Por outro lado, por vezes nos lugares de trás uma parte da plateia feminina tinha dificuldades de acompanhar o espetáculo de maneira realmente confortável. Com este recurso a ópera era assistida mais de perto e auxiliava o olhar concentrado para o palco.

Com um binóculo era possível as damas observarem os gestos e expressões faciais dos artistas que cantavam as óperas, as mãos dos virtuosos pianistas, as cordas dos violinos friccionadas pelas crinas sustentados por madeiras nobres de refinados arcos. Como também, era um instrumento que viabilizava a observação de paisagens de maneira mais eficiente.

No Brasil, por exemplo, as senhoras e senhoritas europeias que passavam pelo Rio de Janeiro, no decorrer do segundo império, atraídas pelas belezas naturais alçavam os morros e, seduzidas pelas paisagens tropicais, usavam o binóculo para perceber as sutilezas daquilo que transpunham com detalhe nos desenhos em telas e papeis.

Assim, diferentes modelos de distintas maneiras e com variados objetivos, os binóculos eram acessórios que ampliavam as visões e destacavam as cores na educação das mulheres do século XIX.

Referências bibliográficas

COSTA, R. S. Entre soirées e óperas: o espaço teatral na pintura. ARS (São Paulo). v. 14, n. 28 p. 256-281, 2016.

PORTELLA, A. C. H. FREIRE, V. L. B. Mulheres pianistas e compositoras, em salões e teatros do Rio de Janeiro (1870-1930). Cuadernos de Musica, Artes Visuales y Artes Escenicas, v. 5, p. 61-78, 2010.