A FAPERJ e o Departamento Cultural da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro apresentam a Exposição

Caderneta

Maria Angélica da Gama Cabral Coutinho

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Programa de Pós-Graduação em Educação

As cadernetas de baile eram pequenos livretos onde as moças ou as senhoras agendavam os parceiros de danças durante um baile. Podiam ser chamados também de cartões de baile.

Algumas moças portavam tais cartões ou cadernetas em capas ou estojos que podiam ser confeccionados nos mais diferentes materiais, das mais finas e sofisticadas como madrepérola, marfim, tartaruga, ou mesmo em metal como prata, alguns até com acabamentos e detalhes dourados, enquanto outras caixas/capas refletiam os costumes de época, como o Art Nouveau, estilo ornamental que dominou a decoração, a arquitetura, e a joalheria entre os anos de 1890 e 1919. Alguns ainda possuíam capas ou estojos com apoio ou fita para a guarda de lápis ou caneta para a anotação.

The Ballroom Guide¹ foi um Manual criado e publicado na Era Vitoriana (1837-1901), período de reinado da Rainha Vitória na Inglaterra, cujos padrões de moda se impuseram em grande parte do mundo ocidental, influenciando sobretudo comportamentos na elite da sociedade. Conforme informações no portal da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, tal manual foi publicado em 1866, em Londres por F. Warne and Co. A descrição da obra pela biblioteca indica que esta fornece instruções detalhadas sobre atitude e comportamento nos bailes da época. A leitura do texto apresenta desde o protocolo para convidar pessoa, cardápio da festa, vestuário para moças, senhoras e cavalheiros até recomendações sobre quem poderia dançar e seus parceiros indicados.

Sobre os cartões e cadernetas, o Guia, ao longo das páginas 24 e 25, descreve inclusive como tais objetos deveriam ser confeccionados, orientando que as danças devessem ser agendadas previamente, e que as cadernetas deviam ser impressas em folhas em que de um lado estariam as danças numeradas e do outro lado as linhas para que fossem escritos os nomes dos parceiros.

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A literatura universal apresenta em trechos de suas famosas obras exemplos de que durante os bailes, a reserva de danças era um protocolo rotineiro. Jane Austen, em suas obras como a renomada Orgulho e Preconceito, evidencia tais solicitações para reserva das contradanças, entretanto, sem que houvesse registro em caderneta ou cartão. Austen alude, ainda, no texto de Mansfield Park (p.255, 2019) ao desejo de um rapaz dançar com a moça ao solicitar que “Reserve duas danças para mim, as que escolher, exceto as duas primeiras.” Todavia, talvez o hábito de cadernetas tenha se estabelecido apenas a partir do século XIX, ou ainda, apenas nas cortes, como demonstra o manual londrino já citado, e Austen ambientou seus romances nas áreas rurais inglesas durante o século XVIII.

A leitura de Honoré de Balzac (p.44) em sua obra- O Pai Goriot- apresenta o fato de que o registro do nome dos cavalheiros também poderia ocorrer nos próprios leques que as damas sempre portavam, pois muitas vezes também serviam como instrumentos de comunicação.

“Mas, para Rastignac, a sra. Anastasie de Restaud foi a mulher desejável. Ele incluíra duas danças na lista dos cavalheiros escrita no leque, e conseguira lhe falar durante a primeira contradança.” (BALZAC, p. 44, 2015)

Lucy Maud Montgomery (p.232) cita o cartão de baile quando a personagem se desculpa e recusa a dança com um cavalheiro justificando que “(...) seu cartão de dança já estava completo”.

Assim, pode-se perceber que as cadernetas ou cartões de baile foram objetos presentes em muitas festas da elite social, onde as moças registravam o nome dos cavalheiros por que tinham interesse para as danças do baile.

Notas de rodapé

¹ First published in 1888, this 'Handy Manual For All Classes Of Society' gives detailed instructions for the holding of and attendance at a Ball. All aspects are covered from the correct form of invitation and reply, appropriate costumes, who may dance with whom, the provision of food and drink and, of course, the dances themselves. The original publishers advertised their book as 'the newest and most complete Ball-room Guide yet presented to the public.' In: https://www.loc.gov/resource/musdi.216.0?st=gallery ²

² In: https://www.loc.gov/resource/musdi.216.0?st=gallery

Referências bibliográficas

AUSTEN, Jane. Orgulho e Preconceito. 20ª ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2017.

Mansfield Park. 1ªed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2019.

BALZAC, Honoré de. O Pai Goriot. 1ªed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2015.

MONTGOMERY, Lucy Maud. Anne da Ilha. Jandira/S.P.: Ciranda Jovem, 2020.

WARNE, Frederick & Co. The Ball-room Companion: guide with coloured plates. London,Warne, Frederick & Co, 1888.